ROBALOS NO INVERNO

11-05-2011 10:05



(Matéria publicada no Jornal Pesca Brasil em 06/2010)

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Por ser a época mais fria do ano,o inverno, é para muitos, o período de pesca mais difícil do robalo.
Alguns até acham que o robalo entra numa espécie de hibernação neste período, como fazem as tilápias, que literalmente baixam o seu metabolismo ao mínimo para economizar energia.
Realmente, algumas coisas mudam, porém é perfeitamente possível fazer boas pescarias neste período.
Se de um lado o robalo fica mais manhoso, e passa a exigir por parte do pescador, o uso de técnicas apropriadas, por outro lado, a recompensa pode vir na forma da captura de exemplares maiores.
Deixando os prós e os contras de lado, vamos agora mergulhar em algumas das centenas de particularidades que fazem do robalo, uma paixão nacional.
Para começar , vamos falar um pouco da espécie.
Predador por natureza, territorialista ferrenho,de comportamento imprevisível, e guloso o robalo está representado aqui no sul por duas espécies.
O peva e o flecha.
Ambos tem nos rios de mangues, o seu nascedouro.
Ambos tem nos caranguejos, camarões e peixes forrageiros, seu alimento predileto.
Ao contrário do peva, que muitas vezes passa toda a sua vida dentro dos estuários, o flecha costuma migrar para águas mais abertas, ao atingir a idade juvenil.

Não estamos falando aqui de uma regra exata, como no caso dos salmões, mas sim da maioria dos casos, porém existem evidentemente as exceções, principalmente se tratando do robalo.
Habitante de mangues, baias, barras, costões e ilhas, o flecha tem mais preferência por água salgada do que salobra.
Pode-se capturar um flecha nos mangues, mas é nas águas limpas e salgadas das baias, barras e costões que as chances aumentam, e muito.
A força é uma das suas grandes características.
Só pela briga, que ele desenvolve, o pescador habituado, mesmo antes de ver, já sabe que apanhou um flecha.

Não é raro, surpreender-se muitas vezes com um exemplar de pequeno porte, mas que por ser um flecha, brigou como gente grande.
Outra característica desta espécie, é a extrema rapidez.
Desta forma, o trabalho das iscas para o flecha, precisa ser mais rápido, mais nervoso, mais provocativo.
Por exemplo, um stick destinado ao flecha, deve ser trabalhado quase como uma zara, pouca coisa mais lento. Já para o peva precisa ser bem mais lento.
Uma isca de meia água para o flecha, deve ziguezaguear de forma rápida, nervosa, como se estivesse sendo perseguida.
Já para o peva devem ser movimentos mais lentos, como se fosse um peixinho machucado se debatendo, mas já cansado.
É importante que tanto para um, como para outro, a isca não fique sem movimento.
Ter total controle do movimento da isca, é fundamental.
É preciso saber quando imprimir movimento, e quando se deve usar o movimento inercial da própria isca.
Por exemplo, no caso de uma isca flutuante, de barbela.
Após chasquea-la, deve-se dar o tempo certo para retornar a superfície, simulando a morte súbita. Porém, no exato momento que atingiu a superfície, deve ser novamente chasqueada.
Na qualidade de predador, basta um centésimo de segundo, para o robalo perceber que trata-se de um engodo.
Muitas vezes é melhor ter poucas iscas, mas conhecer o comportamento de cada uma profundamente, do que ter muitas e sair tentando a sorte.
A pesca do robalo é altamente técnica, e como tal requer treino, dedicação e disciplina.
Conheço uma centena de pescadores que passam horas treinando arremesso, analisando as iscas, limpando carretilhas, verificando nós e líderes, tudo para estar pronto quando for pescar, mas conheço pouquíssimos que se preocupam em conhecer e treinar os movimentos das iscas na água.
Em Curitiba, isto pode ser feito em parques com lagos, nas cavas do boqueirão, Boneca do Iguaçu, pesque pagues, chácaras, e piscina do prédio.
O que não pode é deixar para tentar a sorte na hora da pescaria.
Ali serão as horas nobres, não dá para desperdiçar.
Voltando as características da espécie, temos agora o peva, uma espécie de primo pobre do flecha, bem mais preguiçoso, muito mais lento e faísca atrasada.
As vezes demora para pegar na partida.
Precisa ser provocado , provocado e provocado para se mexer.
Gosta de comida na boca, se a isca cair um pouquinho mais longe, esqueça, ele não vai atrás.
Porém ocorre em muito maior quantidade que o flecha, e muitas vezes é o salvador da pátria de muitas pescarias.
Gosta de morar mesmo é nos rios de mangue.
Para ele, um rio de mangue, com uma boa galhada, numa curva de rio, é o resumo de uma vida perfeita.
Freqüentador assíduo de quase todos os tipos de iscas artificiais, é pouco exigente e bastante guloso.
Isca lenta e arremessada perto dele, é iguaria dos Deuses.
Não discute tamanho de isca.
Guloso, por vezes ataca iscas maiores que seu tamanho.
A pescaria do peva, é sempre divertida.
Seja pelos botes errados, seja pela constância de ações.
Falando especificamente da pesca do robalo no inverno, pode-se dizer que alguns poucos cuidados adicionais, podem fazer grande diferença no resultado.
Por se tratar de um período em que a temperatura da água costuma baixar muito, as técnicas devem se concentrar em iscas de fundo, facilitando assim o acesso do peixe ao engodo.
Tenha em mente, que nesta época, as águas mais profundas são as mais quentes.
E na contabilidade da vida selvagem, onde toda refeição requer o ônus do desgaste físico, aquelas que estão mais fáceis, ganham a preferência.
Dentro deste contexto, os camarões artificiais e shads são disparado as melhores opções.


Em seguida vem as iscas sinking e suspend, porque vão aonde o robalo está, e permanecem por lá, fazendo o seu trabalho.
Claro que existem outras opções no mundo das iscas artificiais.
Não podemos esquecer dos fabulosos jumping jigs, que passaram a freqüentar as caixas dos pescadores de uns dez anos para cá.
Nem pensar em esquecer também dos jigs (as xuxinhas), que são as tataravós da pesca com iscas artificiais.
Percebeu agora a importância de conhecer o trabalho de cada isca, antes de sair para pescar ?
Outros fatores que devem ser considerados também, são o grau de limpidez das aguas, devido as poucas chuvas do período, o que nos remete a dois fatores.
O primeiro é procurar usar iscas transparentes.
A razão é a sua apresentação mais natural ao predador, que agora tem uma visibilidade muito maior, ou falando em termos técnicos, a assinatura hidrostática da isca.
Outro fator muito importante, são os arremessos longos, porque a limpidez da água permite ao predador um maior alcance de visão, que o fará fugir ao menor sinal de perigo.
Um fator adicional, é o aumento do grau de salinidade nas águas, devido a menor incidência de chuvas, mas este é um fator positivo, que tende a atrair os robalos maiores, para dentro dos rios e baias.
Se possível, procure programar as suas pescarias para os terceiros, quartos e quintos dias, das luas minguante e crescente, são os melhores.
Analisar as tábuas de marés, deve se tornar um exercício obrigatório.
Procure por marés com a mínima de 0,6 e a máxima de 1,2.
O exemplo abaixo, apresenta uma ótima configuração de marés.
DOM 06/06/2010-03:17 0.8
06:49 0.6
11:13 1.1
16:36 0.4
21:51 1.1

Atente para pedras, pilastras e arvores caídas.
Nestes locais a água costuma ser mais quente, o que é um grande atrativo para o predador que está economizando energia.
Saídas de ribeirões, corixos e bracinhos, principalmente nas vazantes, costumam dar ótimos resultados.
Galhadas secas, sempre fazem parte da estratégia de emboscada dos robalos.
Nas vazantes, procure marcar especialmente aquelas que tem cracas brancas.
São as mais antigas, e na enchente são pontos certos.
Arremesse sempre antes do ponto, deixando a maré levar a isca até o local.
Pratique sempre o pesque e solte, e boas pescarias


Marcos Zotto